Descrição do Risco


Um movimento de vertente ocorre quando a força motriz da gravidade excede a resistência proporcionada pela fricção dos materiais da vertente, ou seja, quando estes já não são capazes de resistir à força da gravidade. Esta diminuição da resistência pode resultar de causas internas ou externas. As causas internas normalmente envolvem alguma alteração nas propriedades físicas ou químicas do material (rocha ou solo) ou do seu conteúdo de água. Os factores externos que conduzem a um aumento da tensão tangencial envolvem usualmente alguma forma de distúrbio que tanto pode ser de origem natural ou induzida pelo homem.

Os vários tipos de movimentos de vertente podem ser diferenciados pelos tipos de material envolvidos e pelo tipo de mecanismo. Outros sistemas de classificação incorporam variáveis adicionais, como a velocidade do movimento e o conteúdo de água, ar, ou gelo do material do movimento de vertente.


Carta de Risco

CARTA DE PERIGOSIDADE

CARTA DE VULNERABILIDADE

Metodologia e variáveis utilizadas


A metodologia utilizada para a elaboração da cartografia compreende vários níveis de informação, relacionados fundamentalmente com aspectos físicos do território para a determinação da Perigosidade e com elementos culturais e naturais com susceptibilidade a movimentos de vertente, para a determinação da Vulnerabilidade (Figura 8).



METODOLOGIA PARA A CARTA DE PERIGOSIDADE


Ocupação do solo – é uma das variáveis mais importantes na definição da perigosidade uma vez que a tipologia de ocupação, tendo em conta aspectos como formações vegetais existentes, sua estrutura e organização no espaço, tem uma influência importante na origem de movimentos de vertente. A base de referência para o estabelecimento de ponderações foi a carta de ocupação do solo de 1990 (modificada);

Ocorrências anteriores – esta variável é muito importante na medida em que é um indicador das condições de ocorrência de movimentos de vertente. Informação obtida através de dados fornecidos pelos municípios e pela observação de fotografia aérea;

Litologia – variável que considera as diferentes características gerais do substrato geológico, que influenciam o desencadear de movimentos de vertente. Utilizou-se cartografia geológica nas escalas 1/50.000 e 1/200.000, do Instituto Geológico e Mineiro;

Falhas – a actividade tectónica é um elemento que pode influenciar o desencadear de movimentos de vertente, e as áreas localizadas em contexto de falhas podem estar mais sujeitas a estes fenómenos. Utilizou-se cartografia geológica nas escalas 1/50.000 e 1/200.000, bem como a Carta Neotectónica de Portugal Continental, na escala 1/1.000.000 para a definição das principais falhas activas e estabeleceu-se um máximo de 200 metros de influência das mesmas para a perigosidade de movimentos de vertente;

Solos – variável que considera as diferentes características pedológicas, que podem influenciar o desencadear de movimentos de vertente. Para este fim, utilizou-se a cartografia de aptidão do solo da terra transmontana, na escala 1/100.000;

Declives – O mais importante factor condicionante dos movimentos de vertente, é aqui utilizado com intervalos de classe habituais neste tipo de estudos (5, 15 e 30 graus de inclinação das vertentes). Para tal foi criado um modelo digital do terreno com base na cartografia de hipsometria (vectorial) com curvas de nível com intervalo de 10 metros;

Exposição de vertentes – Indicador importante para alguns tipos de movimentos de vertente, na medida em que indica áreas voltadas a norte, mais propícias a estes fenómenos. Para tal foi criado um modelo digital do terreno com base na cartografia de hipsometria (vectorial) com curvas de nível com intervalo de 10 metros;

Cursos de água – indicadores de maior humidade do solo (pela proximidade) e consequentemente, das áreas onde os movimentos de vertente poderão ocorrer mais facilmente. Foram estabelecidas áreas de influência em redor dos principais cursos de água.

METODOLOGIA PARA A CARTA DE VULNERABILIDADE


Aglomerados populacionais – é o indicador da maior vulnerabilidade humana aos movimentos de vertente. Para tal utilizaram-se as áreas sociais existentes na carta de ocupação do solo estabelecendo ponderações diferentes consoante a densidade populacional. Para este caso, às principais cidades atribui-se a ponderação mais elevada;

Edificado – indicador dos edifícios nos concelhos. Aos edifícios de habitação e serviços foi atribuída pontuação máxima e aos edifícios industriais uma pontuação menor, devido à vulnerabilidade humana ser ou poder ser aí mais reduzida.

Vias de comunicação – principalmente rodoviárias, mas também ferroviárias e aeródromos. A cartografia utilizada baseou-se na existente nas cartas militares, escala 1/25.000, formato vectorial de 1995 e informação cedida pelos municípios. A ponderação foi estabelecida de acordo com a hierarquia da rede e para o caso dos locais de aterragem para meios aéreos foi definida uma área de influência de 1.000 metros;

Infra-estruturas – como indicador dos equipamentos de suporte às actividades humanas, são consideradas as redes (subterrâneas e sub-aéreas) de água, de gás, de electricidade e de telecomunicações. Neste caso, considera-se com valor máximo de vulnerabilidade a movimentos de vertente a rede eléctrica e com valor mínimo a rede de água;

Área agrícola – foram estabelecidas pontuações por tipos de cultivo, tendo como indicador as culturas mais sensíveis aos movimentos de vertente. A base de referência para o estabelecimento de ponderações foi a carta de ocupação do solo de 1990 (modificada);

Área florestal – foram estabelecidas pontuações por tipos de floresta, tendo como indicador as árvores mais sensíveis aos movimentos de vertente. A base de referência para o estabelecimento de ponderações foi a carta de ocupação do solo de 1990 (modificada).


INTERPRETAÇÂO DOS RESULTADOS

 

CONCELHO DE MIRANDELA


A perigosidade de movimentos de vertente no concelho de Mirandela é igualmente caracterizada pelo domínio das classes “moderada” e “elevada”, em função do relevo acidentado que predomina em todo o concelho, caracterizado pela ampla bacia de Mirandela, pelo encaixe acentuado de rios e ribeiras e por relevos residuais que se destacam, o que deriva em acentuados declives nas vertentes. As áreas com perigosidade mais elevada situam-se nos sectores de Lamas de Orelhão – Passos, nas proximidades de Mirandela nas vertentes do vale do rio Tua e na ribeira do Vale do Asno, próximo de Franco. Neste âmbito, é de destacar a muito elevada perigosidade associada ao sector central do Concelho, correspondendo à sede de concelho e a cerca de 2 km para Norte a partir da mesma cidade, ao longo do rio Tua e das Ribeiras de Carvalhais e de Mourel. A perigosidade é igualmente muito elevada, no sector Sul do Concelho, na freguesia de Frechas, a Norte da povoação do Cahão, ao longo do rio Tua.

Tal como em Bragança e Macedo de Cavaleiros, a maior vulnerabilidade aos movimentos de vertente recai nas áreas sociais do concelho, principalmente na cidade de Mirandela e nas vias de comunicação principais.

A cartografia de risco reflecte a igual importância conferida à Perigosidade e à Vulnerabilidade nesta análise. A cidade de Mirandela e as principais vias de comunicação, das quais se destaca o IP4 apresentam-se como as áreas com os valores mais elevados. Por outro lado, identificam-se igualmente com risco aos movimentos de vertente outras vias, como a linha-férrea do Rio Tua e mesmo infraestruturas como a rede de electricidade.


CONCELHO DE MACEDO DE CAVALEIROS


Neste concelho a maior probabilidade de ocorrência de movimentos de vertente situa-se principalmente em dois sectores: na vertente ocidental da serra de Bornes, com declives muito acentuados e registos de inúmeras ocorrências anteriores; na vertente norte do Monte de Morais, igualmente bastante inclinada. Por outro lado, nalguns sectores da parte sul do concelho, como no vale da ribeira do Vale de Moinhos a probabilidade apresenta-se bastante elevada. O mesmo acontece a norte da cidade de Macedo de Cavaleiros, na ribeira de Ferreira.

As áreas mais vulneráveis a este tipo de ocorrências situam-se na cidade de Macedo de Cavaleiros, bem como ao longo das vias principais, das quais se destaca o IP4. Por outro lado, e tal como no concelho de Bragança, a presença de áreas naturais protegidas (serra da Nogueira, Azibo e Monte de Morais) contribui para a definição de outras áreas vulneráveis aos movimentos de vertente.

Deste modo, para alem da cidade de Macedo de Cavaleiros, onde se concentra o Risco mais elevado do concelho, são igualmente de apontar como áreas de risco moderado a elevado alguns sectores do Monte de Morais e das principais vias de comunicação que atravessam o concelho.


CONCELHO DE BRAGANÇA


A probabilidade de ocorrerem movimentos de vertente é moderada ou elevada na maior parte do concelho, considerando-se o relevo acidentado como o principal factor para estas ocorrências. Os sectores onde a perigosidade é mais elevada situam-se nas vertentes voltadas a norte do vale encaixado do rio Sabor a montante de França, na vertente ocidental da serra de Montesinho (Costa Grande), nas proximidades da aldeia de Vilarinho e do rio Baceiro, na vertente norte da serra da Nogueira, nas vertentes da ribeira dos Veados (Paradinha Nova) e no vale encaixado do rio Sabor entre Outeiro e Coelhoso. A menor perigosidade ocorre em sectores aplanados do concelho, como a Baixa Lombada e mesmo nos topos da serra de Montesinho.

As áreas mais vulneráveis a este tipo de ocorrências situam-se na cidade de Bragança e arredores, bem como ao longo das vias principais, das quais se destaca o IP4.

Como resultado do cruzamento entre a Perigosidade e a Vulnerabilidade, a carta de Risco aponta como áreas de Risco mais elevado de movimentos de vertente a área envolvente à cidade de Bragança, as principais vias de comunicação e infraestruturas. Esta metodologia revela que a acontecer um movimento de vertente em Bragança (cuja probabilidade é muito baixa, visto os declives na cidade serem quase inexistentes), as consequências serão muito graves.


FONTES DE INFORMAÇÃO


Carta de Ocupação do Solo de 1990, modificada, Instituto Geográfico Português, 1990;

Carta Geológica de Portugal, escala 1/200.000, Folha 2, em formato vectorial, Instituto Geológico e Mineiro, 2000;

Carta Neotectónica de Portugal Continental, escala 1/1.000.000, Instituto Geológico e Mineiro. Lisboa, 1989;

Carta de Aptidão do Solo, escala 1/100000, Agroconsultores & COBA, 1991;

Ortofotomapas, fornecidos pelos municípios de Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança;

Modelo Digital do Terreno, declives e exposições das vertentes e cursos de água com base nas layers “hipsometria” e “hidrografia” provenientes das cartas militares, escala 1/25.000, em formato vectorial, Instituto Geográfico do Exército, 1995;

Periódicos regionais, nomeadamente o Mensageiro de Bragança (1940-2007), Notícias de Mirandela (1957-2007), o Cardo (1982-1996) e Jornal Nordeste (1996-2002).